A necessidade de seguimento médico e reabilitação depois de uma infeção por SARS-CoV-2 é outro desafio da pandemia. Saiba porquê.
Embora seja vasto o conhecimento sobre a importância do seguimento e reabilitação após infeções respiratórias graves e/ou cuidados intensivos, desconhecemos ainda quais são exatamente todos os grupos de doentes COVID-19 que têm necessidade de fazer seguimento médico depois da doença.
Esta necessidade de acompanhamento clínico é, pois, mais um desafio do presente contexto pandémico.
Na verdade, não está esclarecido se a COVID-19 deixa danos pulmonares e/ou físicos permanentes e, em caso afirmativo, qual a sua extensão.
São inúmeras as referências a casos em que o acompanhamento e os programas de reabilitação após a COVID-19 têm sido fundamentais.
É já evidente que não são apenas os doentes que estiveram internados e/ou em cuidados intensivos que ficam com sequelas da doença.
Muitas outras pessoas recuperadas da doença continuam a ter sintomas de cansaço, fadiga fácil relacionada com o movimento ou dificuldade respiratória, ou outros, como alterações do olfato e do paladar durante períodos prolongados.
Por isso, considera-se atualmente que o seguimento médico poderá ser benéfico para as pessoas que recuperaram da COVID-19 e mantêm alguns sintomas relacionados.
O objetivo deste seguimento é identificar se estão presentes sequelas que podem ser alvo de reabilitação para conseguir uma recuperação total.
Também, o facto de muitas pessoas tratarem a COVID-19 em casa, mesmo com sintomas, mas sem necessidade de observação médica presencial ou cuidados hospitalares, torna o seguimento após a doença uma possibilidade para todos os que entendam fazê-lo.
Quando se deve ir a uma consulta de seguimento depois de recuperar da COVID-19?
De acordo com o conhecimento disponível sobre a doença, sabe-se já que até dois terços dos adultos com COVID-19 não grave apresentam queixas durante períodos até 2 meses depois da infeção, principalmente:
Anosmia ou perda de olfato;
Ageusia ou perda de paladar;
Dispneia ou falta de ar;
Astenia ou debilidade.
O seguimento médico dos doentes com COVID-19 entre as 6 a 8 semanas após a infeção aguda parece ser a altura ideal para avaliar potenciais impactos e necessidades de reabilitação, qualquer que seja a apresentação clínica inicial.
Quais são as sequelas expectáveis da COVID-19?
Alterações do tecido pulmonar, como opacidades em vidro despolido, consolidações, espessamento vascular, bronquiectasias, padrão de pavimentação em mosaico e nódulos sólidos irregulares são as alterações mais comuns que a infeção pelo SARS-CoV-2 revela nos exames de imagem.
Estas alterações imagiológicas refletem-se em alterações funcionais respiratórias que se traduzem em sintomas que persistem após a infeção, nomeadamente o cansaço fácil (astenia) e a falta de ar (dispneia), que pode ser apenas para grandes esforços ou simplesmente para as pequenas tarefas do dia-a-dia.
Nos doentes que tenham estado em cuidados intensivos, as limitações da função respiratória são mais importantes e persistentes. Na verdade, estes doentes quase sempre têm sequelas com limitação funcional independentemente de se tratar ou não de COVID-19.
Há ainda alguma indicação de que os doentes com COVID-19 são mais sensíveis a fadiga relacionada com movimento, mesmo sem terem tido uma doença grave.
Qual é a vantagem de detetar sequelas pulmonares?
A vantagem de detetar este tipo de sequelas, é sobretudo, poder fazer uma referenciação precoce dos doentes para programas de reabilitação respiratória (fisioterapia), que têm demonstrado grande eficácia na recuperação.
No entanto, ainda não está claro qual é o risco de os doentes recuperados de COVID-19 que tenham estado em cuidados intensivos ficarem com limitações respiratórias, físicas, funcionais e cognitivas prolongadas e, portanto, de precisarem de reabilitação adequada, tal como acontece a doentes não COVID-19.
Como é feita uma consulta de avaliação após COVID-19?
As consultas de seguimento para doentes recuperados da COVID-19 usam fluxogramas próprios para fazer uma avaliação precoce e adequada dos sintomas, da função pulmonar e do desempenho no exercício.
Com base nos achados desta avaliação, é então possível organizar o acompanhamento e o tratamento em regime de reabilitação, seja em ambulatório hospitalar ou nos cuidados primários, com médicos de medicina geral e familiar, medicina física e reabilitação, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais ou outros profissionais clínicos cuja intervenção se justifique.
A experiência de acompanhamento após-cuidados intensivos já é algo conhecida, mas as evidências são ainda insuficientes na abordagem aos doentes COVID-19 menos graves, uma vez que as necessidades de cuidados de saúde desses doentes ficam geralmente a cargo dos cuidados de saúde primários.
Autora: Dr.ª Maria José Guimarães Novembro 2020
Fonte
Hospital da Luz - COVID-19: seguimento depois da doença-Dr.ª Maria José Guimarães (3 de dezembro de 2020). Consultado a 16 de Fevereiro 2022. Disponível em https://www.hospitaldaluz.pt/pt/saude-e-bem-estar/covid-19-seguimento-depois-da-doenca
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